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A vida é um cliché. Não há volta a dar. Do nascimento à morte vão acontecendo episódios e sentimentos que se repetem em muitos corações. Por isso não percebo este adiantamento mental que se pronuncia em cada esquina: "Ah, isso é um cliché!". Ah pois é.
Os grandes temas que marcam a vida são quase sempre os mesmos e a forma como reagimos aos mesmos repete-se. Alguns: o amor, a amizade, as relações familiares, o medo, a esperança, o sexo, o desejo, a culpa, a relação com a transcendência (ou a ausência dela), a ansiedade, a redenção, a infância que fica estacionada até ao fim em cada um de nós.
Andamos sempre a falar do mesmo, com os termos de sempre? As histórias em que nos metemos vão-se repetindo? Sim, sim. A vida é isto, meus queridos avaliadores de clichés (há muitos, com cédula profissional). Se quiserem outra narrativa comprem outro jogo de computador. Este tem níveis parecidos e lugares comuns. É urgente deixar a frase: "Sei que isto é um cliché mas".
Um tipo está na boa, com os assuntos arrumados, e, sem que tire senha, acontece-lhe uma peripécia. É despedido, tem um desastre, apaixona-se. Torna-se ridículo no SMS quando se enamora, fica sentimental nas palavras quando se torna avô, fala de felicidade quando se mete em encrencas, chora quando espera um filho emigrado que vem passar as férias em casa.
Sim, o homem é um cliché ambulante. Na acção e no verbo. E alguma da melhor arte - aquela que é classificada de "cliché" pelos adiantados mentais - reflecte este caos repetido em que nos desorganizamos.
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