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todos juntos agora

por Nuno Costa Santos, em 31.03.18

 

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publicado às 23:22

O Manuel Reis de cada um

por Nuno Costa Santos, em 29.03.18

Ao sentir esta comovente vibração à volta da morte de Manuel Reis, que vi várias vezes no Frágil, depois da entrada, em frente a um espelho, e no Lux, a cirandar em modo sereno, pergunto-me: quem foi o meu Manuel Reis? - eu que cheguei a Lisboa nos anos 90, trazendo na bagagem referências muitas, à conta do bom convívio com uma rapaziada curiosa, que mandava vir discos - da Contraverso, sobretudo - e livros e filmes para os Açores. E que, depois, andei pelo Estádio, pelo Incógnito, pelo Café Suave, pela Barraca e por tantos outros sítios que abriam e fechavam.

Quem foi a pessoa que me ajudou a cruzar novas visões do mundo, que me fez conviver com pessoas de diferentes gerações (uma das virtudes maiores do Frágil era essa relação entre criativos, jornalistas, advogados, médicos, professores, intelectuais que ali não tinham idade), quem é que criou o ambiente para a partilha de descobertas culturais,ao som do experimentalismo de boas escolhas musicais, Vêm-me à cabeça vários nomes, cada um deles significativo num desses departamentos.

Fala-se na circunstância de Manuel Reis ter fundado uma dimensão do 25 de Abril que estava por cumprir. Ao escutar esse justo comentário, lembro-me do resto do país. Quem foi o Manuel Reis de outras cidades portuguesas que não Lisboa - de outras terras? Nesta altura em que a referência maior é celebrada, era bom ouvir falar da forma como no Porto ou em Braga ou em Torres Vedras ou nas Caldas da Rainha ou nos Açores ou na Madeira se sentiu essa espécie de revolução cultural à medida de cada território. Quem foi o Manuel Reis desses lugares? Estejam à vontade para a partilha. Gostava de vos ouvir.

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publicado às 12:55

Criminologia melancómica

por Nuno Costa Santos, em 29.03.18

O curso de Criminologia e Justiça Criminal da Universidade do Minho é o mais procurado em todo o país. Esta licenciatura, só no seu segundo ano de existência, juntou um total de 170 candidatos em primeira opção para as 25 vagas existentes. A Universidade do Minho explica que toda esta procura está relacionada com a “crescente importância social da área” e ainda a “qualidade científica do corpo docente”. Aqui no bairro comenta-se que o curso tem tido muita procura porque o crime em Portugal, no plano público, tem tido, digamos, uma performance apreciável. Somos bons nisto. Ouvir o melancómico aqui.

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publicado às 12:50

Faces and names

por Nuno Costa Santos, em 29.03.18

Em matéria de memória damos demasiada importância aos nomes. Muitas vezes estamos a ver a cara deste e daquele e não nos lembramos do nome das pessoas. E ficamos aflitos. E pensamos em tomar cinco frascos de gingko biloba. Pode ser uma forma de me proteger contra o cansaço da memória mas começo a considerar sobrevalorizada a história dos nomes, sobretudo daquelas pessoas que são apenas conhecidas e das figuras públicas das quais nunca mais ouvimos falar. O que vale um nome - José, Rigoberto, Carla ou Armandina - ao pé de um rosto? O rosto de uma pessoa, mais difícil de esquecer, é sempre uma história e traz consigo o mais importante dela. Em cada traço está um capítulo - as glórias e os fiascos, as virtudes e as patifarias, o viço e a fadiga. Os nomes são apenas os títulos dessa história. E demasiadas vezes podiam ser muito melhor escolhidos.

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publicado às 12:47

Salão

por Nuno Costa Santos, em 29.03.18

Conheço um café onde param muitos taxistas (à porta estão estacionados os carros), onde os taxistas trocam bocas sobre a vida deste e daquele e comentam a actualidade sem passar os olhos pelo Correio da Manhã (está lá mas nunca vi ninguém lê-lo), onde fazem trocadilhos com Benidorm (“Bebe e dorme”), onde mandam abaixo copos de aguardente pela matina, à tarde e à noite e são metidos na ordem sem alarde (são muitos anos) pelo dono do espaço quando arriscam no palavreado. Pergunto: em que salão de chá se reúne a malta da Uber?

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publicado às 12:46

Natureza humana no trânsito

por Nuno Costa Santos, em 25.03.18

No outro dia, num bairro distante, no momento em que me dirigia para um parquímetro, um condutor, preparando-se para se ir embora, ofereceu-me uma senha com algumas horas para gastar. Agradeci-lhe o gesto e valorizei-o como um ensinamento. Umas horas depois, já à noite, na minha rua, tive uma disputa ridícula com uma condutora por um lugar de estacionamento. Como se nada tivesse aprendido com quem fora generoso comigo, embora noutra situação. Para citar o outro, a vida como ela é. Ao volante o homem pode ser grandioso e mesquinho como uma personagem de Shakespeare. É mais um contributo para a convicção de que nas contingências do trânsito se pode aprender muito do que é a natureza humana nas suas fragilidades e redenções (Camus achava que era no futebol).

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publicado às 02:42

Guionismo no Expresso

por Nuno Costa Santos, em 25.03.18

Que me perdoem os meus comparsas guionistas mas as melhores telenovelas do momento não estão nas televisões mas nas peças do Expresso sobre política. Os cenários e os termos usados para os descrever trazem todos os condimentos de boas histórias, entre comentários assassinos e lutas pelo poder. E também, nas entrelinhas, ressentimentos, traições, ciúmes e desejos de vingança. Na “notícia” intitulada “Como Sócrates Pode Condicionar Estratégia de Costa para Belém” temos ingredientes de um argumento que já se cumpre e promete muito mais. Ora leia-se: “’É óbvio que José Sócrates deve andar com pensamentos a ver como é que se safa disto. E ele tem o exemplo do Lula’, afirmou ao Expresso um barão socialista, que não descarta a tentação presidencial”. Mais à frente, na mesma peça, a referência à preocupação do Presidente da República acrescenta um picante fabuloso, com já imaginadas cenas dos próximos capítulos: “Em Belém, onde o inquilino Marcelo já perdeu alguns minutos a analisar o assunto, a leitura é outra. Se Sócrates se candidatar, isso ‘obriga o PS a inventar um candidato qualquer (Sampaio da Nova?)”. Repare-se na expressão “candidato qualquer”, seguida da venenosa amabilidade da sugestão entre parêntesis - e com interrogação.

Noutra notícia, “Críticos admitem queda de Rio antes das legislativas”, também há toda uma trama com muito potencial e que junta uma grandiosa sonsice e sentenças em off de generais ainda no activo: “’Ninguém está interessado em deitá-lo abaixo, mas isso está cada vez mais em cima da mesa. Nunca se viu tanta asneira junta’, comenta, também sob anonimato, um senador". Confirma-se que na política portuguesa o anónimo tem mais protagonismo do que o que aparece na televisão. Note-se que também há algum burlesco nestes episódios e no modo como são referidos, essencial para fazer distender as tensões dramáticas. Sobre a posição actual de Luís Montenegro, que aparenta preferir esperar uns largos meses antes de abocanhar o adversário, emerge um terno miminho no tratamento - que o departamento novelesco do Expresso não hesita em reproduzir: “Ele não quer, mas as coisas podem não depender do que o ‘Luisinho’ quer ou não”, comenta um seu apoiante”. Convenhamos que ao pé disto telenovelas como "Paixão" e "Jogo Duplo" são autênticos Diários da República.

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publicado às 02:40

Teoria Geral da Tragicomédia da Existência

por Nuno Costa Santos, em 14.03.18

leonorsampaio.jpg

 

Antes de mais, a gratidão pelo prazer da leitura que este livro da Leonor Sampaio da Silva me proporcionou. Agradecer deve ser o gesto primeiro de um leitor satisfeito. E quando falo em prazer é mesmo esse prazer do gozo puro da leitura e de nela poder encontrar uma prosa que se diverte e nos diverte na forma como desenha as aventuras e desventuras de existir. Como ponto inicial, há que destacar o sentido de humor e picaresco que se contém neste livro. “ABN da Pessoa com Universo ao Fundo” divertiu-me como este ano, na literatura, me divertiram a “Ficção Completa”, de Mário-Henrique Leiria, editada pela E-Primatur, e os contos de Alface, reeditados pela Maldoror. Obras para gáudio dos leitores que têm da literatura a noção de que pode, além de tocar nas feridas essenciais da natureza humana, ser uma dança satírica com o desmazelo das ocorrências da biografia das personagens, o que é mesmo que dizer de todos nós.

O evocar destes autores tem um sentido. Aqui também há histórias, muitas delas curtas, também aqui às personagens acontecem diversos episódios, uns mais realistas, outros mais surrealistas, também aqui existe um uso das frases de todos os dias para as enquadrar de outras formas. E um tratamento lúdico da linguagem, que respiga adjectivos que, para usar uma formulação que poderia estar neste texto, tiram do sério os substantivos.

Destaco, além das personagens, o narrador. Faz uma espécie de Teoria Geral da Tragicomédia da Existência, sujeita, demasiadas vezes, ao, cito, fervor didáctico do universo. O universo é a grande armadilha e é, tropeçando nos astros desastrado, parafraseando Caetano Veloso, que segue o humano, fazendo das experiências as devidas interpretações. Essas interpretações estão aqui, espalhadas. Este é um livro de ficção com muito ensaio e crónica dentro, géneros que permitem pequenas reflexões, sardónicas, sobre as digressões várias. 
Destaco, também, a inventividade de algumas analogias. Como a que se faz entre o último dia do ano e o regresso à barriga materna. Algumas das coisas que aqui acontecem são do demónio mas não se julgue que isso basta para colocar o Diabo numa poltrona hollywoodesca de argumentista ilustre. Lê-se num dos contos: “O Demo mais não obteve do que o honroso primeiro lugar no concurso do Penteado Transcendental”. Repare-se na originalidade da formulação “Penteado Transcendental”. Ou desta, noutro passo: “Desgosto amorótico”. Ou ainda desta, noutro ainda: “Virose musical”. 
A língua aqui dança sapateado. E no sapateado por vezes há passos que parecem paradoxos: “(E é assim que) a Pessoa ganha a vida, sem trabalhar”. E é melhor praticar a arte da dança com a inspiração de Baco, se não a dança pode ficar presa. Fica o conselho, que podia ser um aforismo: “Nunca se confie num abstémio – ele jamais mudará”. Comentários de uso comum como “podia ser pior” são desenvolvidos em narrativas muito divertidas como a de “Contrição”, em que a protagonista chega a casa e vê a progenitora com um top justo diminuto e leggings brilhantes. E pensa: “Podia ser pior”.

Este é um livro que é uma grande gargalhada organizada. Uma mistura entre disrupção e dicionário. Gesto rabelaisiano, riso com significado que ou se manifesta numa sátira distópica, como em “Ku Klux Klan”, ou numa fábula com animais que, parecendo amáveis, se tornam tenebrosos e em que, pormenor delicioso, a formiga e a cigarra resolvem emigrar para outra história.

Este universo tanto compreende as práticas ancestrais da feitiçaria como os apelos devoradores da tecnologia. Há aqui televisões que se zangam com pessoas e as apagam e figuras mitológicas, como Marte, que têm página de facebook. Tanto se evocam as modalidades sentimentais do espírito como as mais comezinhas contingências do ser vivo. Encontramos aqui homens com terríveis comichões testiculares e cães que assediam - sim, porque não é só aos homens que acontece. 
Se se acentua aqui o peso do burlesco e das suas formulações, isso não deve retirar a marca lírica de “ABN da Pessoa com Universo ao Fundo”. Muitas são as passagens líricas. Alguns exemplos: “Nenhuma mensagem atravessou o corredor da noite”. Ou “Ter sido ave emboscada na sombra”. Ou “Não é Julho, mas é como se fosse”. O final do livro é mais lírico do que cómico. Como que o silêncio de um narrador generoso, decidido a fazer descansar as personagens. Recolhe-se com o dever, cumprido, de ter feito o que fazem os escritores: organizar, um pouco, pelo menos, o caos narrativo do mundo.

(Texto lido na apresentação de “ABN da Pessoa com Universo ao Fundo”, de Leonor Sampaio da Silva - Companhia das Ilhas, 2017 -, que teve lugar na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada no dia 27 de Novembro de 2017)

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publicado às 20:37

Eu e um cão

por Nuno Costa Santos, em 06.03.18

Fui no outro dia a uma farmácia à noite. Ao entrar e aproximar-me do balcão, senti que estava a ser olhado. Era um cão com um ar sério, direi quase triste, sentado junto às pernas dos donos, que conversavam em modo animado com o farmacêutico sobre um assunto que não captei. A dada altura pareceu-me que o assunto nada tinha a ver com medicamentos ou com saúde. Eles falavam, falavam de algo exterior à farmácia, gesticulavam, apontavam lá para fora. Mais ou menos assim. Os senhores a discutir o aprofundamento da Zona Euro. Eu e um cão, espreitando-nos, curiosos, um pouco desconfiados, à espera de aviar as receitas.

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publicado às 00:57

Duas crianças

por Nuno Costa Santos, em 03.03.18

No outro dia fui com o meu filho de três anos a uma mercearia aqui ao pé, explorada por uma família de bangladeshianos. E quando entrámos, o filho do casal, de três anos e alguns meses, ficou felicíssimo, a olhar para o meu filho. Concentrou-se no padrão do seu casaco. Aproximou-se dele. Agarrou-o, deu-lhe um abraço. Estava eufórico por poder conviver com uma criança como ele. Fiquei depois a saber que os pais não têm possibilidades financeiras de o inscreverem numa escola e por isso o rapaz tem pouco ou nenhum contacto com outras crianças. Momento que me ficou. Uma criança de três anos a conviver intensamente com outra, como se o fizesse pela primeira vez, como se encontrasse um semelhante mas ao mesmo tempo como se se cruzasse com um ser de uma tribo distante, causador de uma curiosidade maior.

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publicado às 02:00

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