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Há uns meses escrevi sobre uma tromba de água que desalojou algumas famílias na minha terra, São Miguel, Açores. Aconteceu no Verão, estação habitualmente quieta durante a qual se esperam mais bronzeadores do que telhados que nos abriguem dos raios chegados de um céu que nos desprotege, contrariando o título de um famoso livro de Paul Bowles.
O Correio dos Açores trouxe uma boa história: um lavrador que protegeu as casas colocando dois tractores na estrada e desviando assim as águas para a ribeira. Como se chamava o homem? João Coração. Nome que oferecia intensidade simbólica a um gesto raro.
Nestes dias os Açores foram de novo atingidos pela fúria de uma Natureza que parece escolher os lugares menos equipados para causar medo a pessoas calejadas pela injustiça das intempéries.
Mais aqui.
Conto-vos o que vi no outro dia: um homem a roubar numa loja. Já fui assaltado, já me levaram um casaco de couro, um relógio, mas nunca tinha visto um homem a roubar à minha frente. O que me impressionou não foi o roubo. Foi a forma como o homem roubou: descansado, recortando com a faca que trazia no bolso uma caixa, tirando lá de dentro um tablet ou um teclado com a calma de um cirurgião competente.
Ninguém ali levantou a cabeça para o homem – e fiquei com a sensação de que muitos topavam o que fazia. Por um momento senti que havia ali desinteresse, dos que fazem parte da escultura definitiva dos dias. Olhei para ele sem censura policial. Olhei. E, ao perceber que estava a ser observado, quis justificar o gesto sem agressividade e sem angústia: "Estou desempregado, não recebo subsídio, tenho de fazer isto." E foi-se embora, nem lento nem rápido, caminhando com o objecto roubado dentro do casaco.
O resto aqui.
Pai de um filho com um ano e quatro meses (e já com dois mais velhos no currículo, um de dez e outro de onze anos), resolvi recolher alguns ensinamentos de livros recentes sobre paternidade, expostos com algum destaque nas livrarias. O escritor Alface escreveu em tempos o livro Um Pai Porreiro Ganha Muito Dinheiro (Fenda). Mas como isso é uma impossibilidade no caso, o melhor é pesquisar conselhos que não implicam fortuna ou a amizade de Carlos Santos Silva.
Duas entrevistas ao João Pereira Coutinho, meu amigo e cúmplice. Aqui e ali. Provas maiores de um sempre bem humorado cepticismo sentimental. Postura que desconcerta os entrevistadores pelo seu sentido extremo de pluralismo, escandaloso para um país que vive de claques.
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