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Espera aí, Setembro

por Nuno Costa Santos, em 31.08.15
Donald Trump. Maria de Belém. Henrique Neto. Eva Carneiro. Porque é que começo a crónica com esta sequência de nomes? Por nenhuma razão. Minto: por estar de férias e ter percebido, ao espreitar por um segundo os jornais, as revistas e os sites, que estas pessoas não estão. Sinto-me solidário com elas. Ah, e por achar que davam pares engraçados. Imaginem um jantar de Trump e Maria de Belém com vista para o rio. Um chachachá de Neto e Carneiro.

Agora que já vos dei duas imagens de borla, desço até ao ponto da crónica: estaremos preparados para Setembro? Estaremos preparados para a campanha eleitoral, para as irritações de trânsito, para a gritaria futebolística, para mais ressentimento, para mais dias gastos no Facebook a postar aquilo que ganharia em beleza permanecendo em privado? Eu não estou.
 
O resto aqui.

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publicado às 23:46

Vivo

por Nuno Costa Santos, em 30.08.15

Começo por dizer que estou indignado com o Pedro Arruda por, aos 40 anos, ter publicado este livro de poemas. Um atrevimento! Ainda por cima é um livro de amor. Não queria ter de explicar isto: o amor morreu, Pedro. O amor já não existe. O amor foi extinto pelo cinismo. E o cinismo nada tem a ver com o amor. O cinismo é uma paixão. Uma paixão pelo azedume. Há mais lince-ibérico do que amor, Pedro.

(É sempre bom uma pessoa ocupar-se de sentimentos que já não existem. A arqueologia merece um elogio. A ficção científica também).

Mas há mais: esta é uma edição de autor. Isto, meu deus, já ultrapassa tudo o que é razoável! E ainda por cima uma edição cuidada e desenhada pela Júlia Garcia. Mas o que é isto, Pedro? As edições de autor morreram. Porque as edições de autor são mais do que amor. São actos de devoção. E de liberdade, para além das regras de hipermercado que nos cercam. Estamos na presença de um escândalo, meus senhores. Espero que tenhamos consciência disso.

Vamos agora analisar esta insanidade. Em vez de “20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada”, que foi aquilo que, como sabemos. escreveu o cidadão Pablo Neruda, o Pedro escreveu “15 Poemas de Amor e um Divertimento”. Percebo: os tempos são de austeridade. E a austeridade poética é algo que não tem sido tão falada mas também existe.

Este livro tem palavras. O que até faz sentido, tendo em conta que é um livro e há muitos livros com palavras. Palavras como “sol”, “mar”, “Verão”, “corpo”, “beijo”, “sexo”, “sonho”, “infância”, “pássaros”, “mãos”, "riso". E é um livro pelo sentimento puro para além dos dias. Um livro contra o desgaste, um livro da festa do decisivo, uma “Árvore da Vida” do essencial que nos foge com as contas do dia a dia e os telefonemas da MEO a tentarem impingir-nos mais uma promoção que dispensamos.

É um livro da crença quase romântica na literatura (não: da crença romântica na literatura) e no poder das palavras como forma de alterar a relação com o mundo e de voltar a um íntimo sublime que se deseja recuperar. E é uma homenagem waltwhitmaniana à Natureza. E lembro-me de Whitman ser, nas nossas adolescências, uma das preferências insensatas do Pedro.

15 poemas que são um fluxo das coisas belas. Que arriscam na sua busca. Que procuram. Que não se vigiam em cada instante. Que se deixam ir. E que encontram as melhores paragens para descansar: “Quando comecei a escrever/não chovia”, “se conheceres a consciência das coisas/ o tempo não te ultrapassará” e “no espaço de um poema serás para sempre”.

O “divertimento” deste livro é como um traçadinho depois de uma refeição doce. É um poema cheio de humor, a partir de uma conversa ouvida no Café Internacional, na Horta, sobre uma rapariga que não festeja o Dia dos Namorados porque o namorado a trocou por uma amiga. É algo importante. Tenhamos compaixão pela moça.

Há mais um motivo para nos indignarmos com o Pedro. Há aqui muita coragem. A coragem de escrever, a coragem de se jogar, a coragem de partilhar. A coragem morreu, Pedro. Hoje somos tão prudentes. Vamos todos morrer por excesso de prudência no sangue. Acreditem no que vos digo.

O Pedro, não. O Pedro vai ficar vivo. Para depois contar como é que isto é.

(texto lido/dito no lançamento de “15 Poemas de Amor e um Divertimento”, de Pedro de Mendoza, edição de Junho de 2015)

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publicado às 18:39

Vamos

por Nuno Costa Santos, em 28.08.15

Hoje lançamos o livro do Pedro Arruda. Farei o papel de apresentador mas a conversa é de todos. É daqui a pouco, às 19h, na Solmar, em Ponta Delgada. Quando tínhamos 17, 18, 19 anos fazíamos carreirinhas e ao mesmo tempo falávamos de William Carlos Williams. Comíamos cracas, discutíamos Antero e bebíamos um fino no fim. Conquistávamos miúdas à conta da poesia. Elas fingiam gostar dos poemas e aproveito para lhes agradecer a generosidade. 20 e tal anos depois, voltamos a ludibriar as pessoas, agora no digníssimo espaço de uma livraria.

 

 

poemas.jpg

 

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publicado às 16:25

Pátria

por Nuno Costa Santos, em 16.08.15

Sou cliente de uma farmácia chamada Pátria. Ou seja: na Pátria encontro os remédios para todos os meus males. Assim fosse.

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publicado às 16:06

tema

por Nuno Costa Santos, em 13.08.15

A segunda canção que o B ofereceu, com o seu, ao meu imaginário. A coisa processou-se assim: o Bernardo veio cá a casa, espreitou o guião do primeiro episódio da série melancómico, almoçámos (lembro-me que foi uma farta comida portuguesa) e um tempo depois (dias), recebi uma chamada sua a convocar-me para ir ao estúdio ouvir a gravação deste "Tema do Melancómico".Logo gostei, logo entranhei. A letra é dele e permite topar que entrou no universo da personagem com o faro de quem cheira zona próxima e familiar. O B Fachada tem uma dimensão melancómica. Ou sou eu que tenho uma vocação fachadiana? Por isso é que a gente se entende tão bem.

 

 

 

 

 

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publicado às 01:12

Like

por Nuno Costa Santos, em 12.08.15

 

 

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publicado às 23:28

Camus

por Nuno Costa Santos, em 11.08.15

albertcamus.jpg

 

Para o intelectual (luso e sem o ser), escritor que é escritor é um sacana. Os "bons sentimentos" não são para o escritor e devem mesmo ser evitados por quem aspira ao alto cargo. Na literatura o desejável é ser-se demoníaco como pessoa nos intervalos da escrita. E depois há Camus. Um dos grandes e um dos gratos.

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publicado às 23:49

Dogs

por Nuno Costa Santos, em 11.08.15

David Cameron não pensou numa coisa quando mandou cães para a fronteira com o objectivo de evitar a entrada de imigrantes ilegais: os cães podem querer sair de Inglaterra.

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publicado às 01:08

Safadezas

por Nuno Costa Santos, em 04.08.15

Livros para ler no Verão? “O Cheirinho do Amor”, do brasileiro Reinaldo Moraes. Traz crónicas sobre temas quentes – nada que não se resolva com umas idas frequentes à água. O que se quer dizer por temas quentes? Isso mesmo: assuntos da carne. Dossiers eróticos e alguns muito do que isso. Linguagem desamarrada. Expressões vagabundas como “tesuda pra dedéu”, “estrepolias sexuais”, “esbórnia com as aeromoças”, “modalidade transcendente de fuque-fuque”, “ripa na chulipa”.

Personagens visadas: Cicciolina, padres dados ao bem-bom, corredores de automóveis com a libido a 200 à hora, participantes em reality shows doutorados em onanismo, a Bruna Surfistinha, psicanalistas. Moraes teoriza, divertindo, sobre as alegrias do sexo, agradece à Volkswagem o ter produzido um “verdadeiro motel rodante pra várias gerações de jovens brasileiros”, trata de bundas, mamas e design vaginal citando Aristóteles e Ovídio e usa de um à-vontade de quem sabe que a arte literária pode e deve ser vivida com elegante libertinagem, fazendo uso de todos os recursos que a língua (nada de duplos sentidos) portuguesa permite. Até os castos e os moralistas devem ler este livro só pelo prazer da linguagem.

 

O leitor preguiçoso pode ler um só texto: “Catherine, Serge et Moi”, um tratado cronístico, um bate-papo escrito a partir de um encontro não programado do autor enquanto jovem com Catherine Deneuve e Serge Gainsbourg num cinema parisiense. O escriba descreve assim a forma como uma amiga o apresentou aos sujeitos famosos: “notre ami brésilien, le grand écrivain Reinaldô". E acrescenta: "que até então não tinha publicado porcaria de livro nenhum”.

reinaldo.jpg

 

Uma curiosidade final: o swing é apresentado como a única forma de o “terceiro excluído” (vulgo corno) se sentir apaziguado. “Num clube de swing não há terceiros excluídos. Ou, por outra, são todos cornos e passam muito bem, obrigado”. Fica a sugestão de Reinaldo, autor de “Pornopopeia”, que ainda faz questão de citar Caetano Veloso quando diz que “sexo não é tudo, mas tudo é sexo” e Julio Cortázar quando escreveu que “não há erotismo sem verbo”. Um sacrilégio, em todo o caso.

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publicado às 22:28

Esposo de César

por Nuno Costa Santos, em 03.08.15

Sentido de humor? O escritor, em Portugal, é como a mulher de César: não basta ser sério. Tem de parecê-lo.

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publicado às 10:43

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