Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Por Acaso

por Nuno Costa Santos, em 23.01.14

Hoje quase todas as sentenças são rematadas com um “por acaso”. “És um gajo porreiro”. Pausa. “Por acaso”. Como é que um gajo que é de facto porreiro fica depois disto? É como a história de precisar de arrasar uns 300 para elogiar uma figura. O elogio, com esse golpe do "por acaso", perde toda a força. Fica só o “por acaso”. Impositivo. Fascista. Desvalorizador da ternura. Dá vontade de contrapor: ”Mas por acaso porquê? Estás com dúvidas se sou um gajo porreiro?!”. A coisa pode não ficar por aí – e é justo que assim seja. “Mais valia chamares-me categoricamente cabrão do que me estares a chamar gajo porreiro por acaso”. 

Não sei de onde vem o "por acaso" – e peço para me fazer um desenho com os motivos. Estaremos nós todos a caminhar para um ateísmo militante e esta é uma maneira de o sublinhar? É que passámos do “graças a Deus” para o “por acaso” em dois segundos. Também não é preciso tanto, caramba! Antes achava-se que nada é por acaso. Agora é tudo por acaso. O amor. A felicidade. O salário. Às vezes o "por acaso" vem disfarçado no interior da frase: “Gostava por acaso de te pedir em casamento”. A única resposta legítima a isto é: “Olha, porreiro”. Um "por acaso" merece outro "por acaso".

O "por acaso" é a instalação da dúvida na conversa do quotidiano. Sinto que quem não usa "por acaso" em cada afirmação é olhado de lado pelos profissionais da dúvida. “Quem é este totó para ter tantas certezas?!”. Antes a coragem do "com certeza" do que este império do "por acaso". Voltemos às sentenças sem bengalas. Injustas, apaixonadas, facciosas. Mas sem medo.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 21:03

Notas do canhenho

por Nuno Costa Santos, em 22.01.14

Um Governo Genial

A dona Lurdes acredita que o Governo vai ficar na História, contrariando o que os maldicentes apregoam com um prato de tremoços à frente nos café da junta. Por que razão? Por ser genial num gesto. O de tirar o tapete às pessoas. Dona Firmina, meta os rapazes na ordem.

Obrigado

Andámos nós em tempos a pensar que o pessoal da Universidade Nova de Lisboa e os seus movimentos anti-praxe eram um radicalismo aborrecido. Afinal tinham, antecipada, a razão do seu lado. O país, muitos anos mais tarde, também começou a escrever justas mensagens indignadas nas paredes das Avenidas de Berna de cada um. Ainda ninguém agradeceu essa antecipação.

Cadete

Lembro-me de os meus amigos que viviam nas Inglaterras cantarem a música que os adeptos escoceses cantavam quando Jorge Cadete entrava em campo, numa altura em que era jogador do Celtic de Glasgow. Jorge, segundo li no jornal i, vive agora do Rendimento Social de Inserção. É altura de os adeptos voltarem para gritar “Jorge Cadete!” com o seu sotaque tão imperceptível como generoso, banhado em Famous Grouse.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:25

Fitness Literário

por Nuno Costa Santos, em 22.01.14

Este cidadão vai ser o personal trainer de um curso breve, numa nova escola de artes, que vai ajudar a fortalecer o músculo literário de quem lá for. O que se promete? Nada mais do que o exercício e a partilha. E isso já é tanto.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 15:28

Na pistas

por Nuno Costa Santos, em 22.01.14

 O melancómico, personagem desaparecido há um tempo, voltou a ser avistado a dar um pé de dança nas praças da urbe. Mas vamos aguardar para saber quais os motivos para este regresso às pistas.

 

.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 00:18

Tá Tudo na Net

por Nuno Costa Santos, em 21.01.14

Hoje, num almoço com amigos, cheguei à conclusão definitiva: tá tudo na net. É uma frase que me tem ocorrido e que agora alcança o primeiro lugar no campeonato das banalidades essenciais. A poesia tá na net. A política tá na net. O cinema tá na net. A música tá na net. O teatro tá na net. A filosofia tá net. O amor tá na net. O sexo tá na net. A esperança tá na net. O medo tá na net. A indignação tá na net. Eu tou na net. Tu tás na net. 

A net tem tudo. Para quê abrir a janela e assistir ao espectáculo lento da mudança de cor das folhas se o google imagens mostra as mais bonitas folhas do mundo em todas as estações? Para quê cumprimentar os vizinhos se os vizinhos tão na página do lado e podemos pedir-lhes um livro online, um vídeo engraçado, uma frase inspiradora, um insulto ternurento? Para quê casar se o status pode ser editado em meio segundo e "a sociedade” reconhece de imediato o compromisso? Para quê perder esse tempo?

Não existe disco de uma qualquer banda indie de um lugarejo obscuro das Américas que não teja na net. Um tipo hoje vai a uma loja de discos e arrisca-se a ser gozado pelo funcionário: “Ganda totó! Então você vem aqui quando pode tirar tudo do sacadanet.com?!”. Não há paisagem que a net não exiba com a melhor das definições e transformada pelo mais inventivo dos filtros. Não há trabalho académico que não exista numa versão mais fundamentada na net. (Admiro muitos dos elementos das novas gerações que já toparam esta verdade essencial. Em vez de estarem a perder tempo a fazer pesquisas em arquivos inúteis, fazem copy/paste de trabalhos de outros aqui alojados. A felicidade de copiar os melhores tá na net).

Ouço algumas vozes mais dadas ao rigor: mas a net não tem isto e aquilo. Respondo antes da última garfada: não tem mais vai ter. É questão de esperar em frente à maquineta. Como o melancólico Zuckerberg, a
aguardar que a sua antiga namorada respondesse a um pedido de amizade, no fim daquele filme desenhado com sádica lucidez pelo rapaz Aaron Sorkin. Um filme que, claro, tá na net.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 20:52

Impuro

por Nuno Costa Santos, em 20.01.14

Ontem à tarde fomos ver o Bergman ao Nimas e à noite estávamos a ver o Factor X na televisão. Faço o lamento perante a audiência: gostava de ser mais puro mas, o que é que querem, dá-me assim para a impureza. Tanto me comovo com o “Persona” como com o D8 e as Cupcake (também me comovi no Nimas por ver o Jorge Miranda sentado à minha frente mas sobre isso falarei noutra ocasião). 

Tanto me toca a cena em que uma mulher perdida, muito bem filmada e fotografada, se aproxima de outra e topa-lhe as cicatrizes e a pulsação (tudo o que a afasta de uma deusa), numa das definições maiores do que são o amor e a ternura, como o injusto instante em que o Berg foi arrasado pelo Paulo Ventura.

Quero ser um cão de raça, apenas interessado nas artes nobres. Não um rafeiro, dado à galderice pop. Quero ser registado numa linha de cultores das artes nobres. Não me quero comover com a “Gaiola Dourada” nem chorar com o Ronaldo. Quero apenas ser da equipa do Bergman – que, segundo o meu amigo João, se tornou nos últimos dias viciado no “Ocean’s Eleven” (também ele merecia ter ido para uma clínica). Ajudem-me a conquistar a pureza. Dar-me ao respeito. Ser aplaudido – com o devido comedimento – nos salões. Como é que se faz?

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tags:

publicado às 20:29

Céus

por Nuno Costa Santos, em 20.01.14

Hoje fiquei feliz. O André, um dos meus melhores amigos, reconheceu que John Murry, rapaz que ando a tentar vender a quem o merece, é grande, enorme. A felicidade é tanta que volto a postar os vídeos do moço.

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 19:00

Um gajo esquisito

por Nuno Costa Santos, em 20.01.14





É de ver este vídeo. Há quem vá comentar: "Este rapaz não é assim muito expressivo". E tem razão. A expressão está dentro dele. Caminha com ela pelas ruas. Notem o baixo. E a produção - os efeitos sacaninhas, a produção noisy de fazer irritar o Shields dos My Bloody (apresenta-se no cartão de visita como "songwriter and noisemaker" mas podia vir com um arriscado "romântico"). Há aqui Mark Eitzel. Um Mark Eitzel que sofreu ainda mais. E que agora está a subir para a luz, vindo de uma mina qualquer.

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:58

O balão do João

por Nuno Costa Santos, em 20.01.14

Não sei o que dizer sobre esta canção que tanto me comove. John Murry explica melhor:

"(...) The song is a prayer of sorts, I suppose. It’s a plea. For mercy, for salvation from myself, for Lori. I wanted saving but didn’t want help. I wanted death, but didn’t want to die. In the end, I got a life I ought not to be living; one I don’t deserve. One I’ve seen stolen from too many people stuck at that intersection; those crossroads. Better people than me (...)".

(da entrevista à Uncut)

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:57

Onde?

por Nuno Costa Santos, em 20.01.14

Esta, que abre o álbum "The Graceless Age", é das melhores. A letra começa assim - e peço a vossa colaboração para esta tarefa difícil - (chorus) Do do do do do do do do do/ Do do do do do do do do do/ Do do". Vai por aí afora num tom magoado e lírico: "The air is filled with lead/ Lights are going down/ They told me to forget you/They never told me how". Ok, já percebemos que o estado de espírito não é famoso. E prosseguimos: "I sleep here in the parlour/With my boots still on my feet (já nos aconteceu a todos)/ Livin down in the darkness/ I pray your ghost to keep" (também). Vem a confissão da reza: "I pray like this (chorus)". O que vem a seguir não é propriamente tão luminoso como um anúncio de um protector solar: "I saw the skies open up/Above a blood red moon/The city lights were choking all the stars/The cry belonged to you". E depois, meu deus, depois vem o pedido tramado: "It's your turn; cry like this". Cry like this? Não é fácil, John. E ainda por cima é um chorus x2. Aguentamo-nos à bomboca. "The curtain is getting heavy/ The lights are coming up/ I'd wish you all the best If wishing were enough". Porra. Pardon my french. O melhor é caminhar para o fim em modo pictórico: "All these fading pictures/All some time back/ I'd tell you goodbye huh/ If goodbye was what I meant". Não estás satisfeito. Então vê-me mergulhar: "Watch me wave goodbye (chorus) x4". Vai buscá-la. Pois vai. Onde é que a podemos apanhar, senhor Murry?

 

 

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:56



Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

  Pesquisar no Blog

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2017
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2016
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2015
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2014
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2013
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D