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Levamos uma eternidade a explicar ninharias. Somos viciados em parêntesis.
Hoje as pessoas, quando não gostam, costumam dizer: ‘Não sou tão fã’.
Raramente as pessoas tristes têm cães alegres.
Portugal tem perdido muita coisa. Mas espero que nunca nos tirem os diminutivos.
"Gaiola Dourada" é uma carta de amor e é ridículo como todas as cartas de amor. Deliciosamente ridículo. Deliciosamente excessivo no desenho das personagens, na história, nas peripécias. Ri-me e comovi-me -e é essa possibilidade que o melhor entrenimento traz. Ri-me com a cena da empregada portuguesa a meter na ordem o filho de uma endinheirada família francesa deprimido. Ri-me com o momento em que um lusitano pai se irrita com o facto de o filho não saber jogar à bola. E, claro, com o instante do hotel em que o casal prefere a comida que leva no tupperware ao fino repasto. Comovi-me com a homenagem que se faz a um certo tipo de família portuguesa, imperfeita, contingente, com irritações e zangas que mais tarde se transformam em doces reconciliações.
Mas não é por causa disso que escrevo estas linhinhas: é para falar dos lugares comuns que alguns críticos, encartados e sem licença, fazem ao facto de o filme estar inundado deles. Concordo com a nota. Há ali muito lugar comum. Sabem porquê? Porque a vida é um lugar comum. Porque os temas que marcam isto de andar cá em baixo são quase sempre os mesmos. E porque - dado mais decisivo - não há crónica de costumes sem lugares comuns. As crónicas de costumes trazem sempre consigo uma variedade de tipos previsíveis. Não há sátira sem caricatura de tipos sociais, de comportamentos repetidos, de convenções e hábitos. Um filme de outro campeonato e com outras ambições como "O Charme Discreto da Burguesia" é um gozo aos burgueses e às suas inanidades. Baseia-se no cliché do que é ser burguês. É um filme sobre o lugar comum que é um certo comportamento cliché. Mas aí já ninguém levanta a pedra-pome.
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