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Vivemos um tempo em que o importante é estar à tona. Mas estar à tona não torna ninguém feliz. É mais porreiro nadar.
O nosso olhar é uma câmara à mão (daquelas novas, fotográficas, muito instáveis, que também filmam). Nem um psicopata consegue ver isto de um modo estabilizado. Mas essa condição continua a não satisfazer. O cinema clássico ainda é uma urgência. Precisamos de planos perfeitos, que nos ajudem a imaginar que o nosso olhar tem um tripé a segurá-lo.
Não é verdade que o ódio não leva a lado nenhum. É um passe gratuito para o inferno pessoal.
Um pouco na sequência de uma tirada marginal e amena anterior, faço uma notinha sobre o documentário sobre Manuel Hermínio Monteiro, de André Godinho, que espreitei ontem nos meus aposentos. Sobre a importância do editor, pouco há a acrescentar. Mas sobre a evidência de que a Assírio e Alvim era uma comunidade nunca é demais fazer um sublinhado, até porque comunidades há poucas, a não ser após o login. Havia conversas na editora, passeios, jantaradas com escritores, editores, vendedores, cúmplices e - imagine-se - amigos. E também zangas e outras merdas. Nada de utopias, portanto (ou portantos). Parecia uma adolescência prosseguida na idade adulta, entre copos, brindes, tascas e livros. É isso: livros.
Não sei se esta aversão à actualidadezinha é Agosto, melancolia ou lucidez.
A bondade e a decência - e os sistemas ou as tradições que as defendem - assustam hoje muito os sábios contemporâneos, cada vez mais mais entregues a um cepticismo muito apelativo para o pensamento gourmet. A bondade é o fim do pensamento "sofisticado". Congela-o debaixo de um minimalismo moral e ético, de um odioso final feliz nas ideias. Mas ao mesmo tempo sem essa procura de bondade, sem essa exigência de querer melhorar pessoalmente (escândalo!) no bairro, pouco a pouco, isto fica lançado num caos canibal. Em que ficamos?
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