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Segundo alguns importantes especialistas da área da psicologia, os estados depressivos tornam-nos mais lúcidos e permitem-nos ver melhor a realidade. A questão é que nós não queremos ver melhor a realidade.
Há muito gente nas paragens à espera do transporte para o desemprego.
Autocarros a darem a volta à cidade para os turistas observarem as pinchagens.
Politicamente defendo um maior sentido comunitário no plano público e no campeonato individual. Têm faltado os dois, sim. Sou por um maior sentido social da política mas também por uma maior responsabilização individual dos cidadãos. De cada um de nós, nos nossos bairros, nas nossas vidas quotidianas. Não me basta pedir o fim das grilhetas da Troika. Peço aos meus concidadãos para começarem a ir às reuniões de condomínio e os que já vão a levarem no cesto outra atitude. Isto precisa de políticas sociais e da responsabilização de todos.
São vagorosos, sombrios, não demasiado insistentes. Trazem todos muletas e há quem fique a pensar se todos precisam de muletas. Se não haverá um elemento de artifício nas suas histórias. Há quem, desconfiado, nunca estenda a mão para a esmola que pedem. Há quem estenda de vez em quando. Uns são puristas do documentário, outros preferem a impureza da ficção.
"Searching For Sugar Man" é um filme importante por várias razões:
- lembra a evidência, cada vez menos valorizada neste campeonato de likes, de que há génios sem qualquer reconhecimento.
- mostra a importância dos "mercados alternativos" para artistas maiores, fora das Américas do costume.
- diz que o momento de revelar gratidão tem uma vida para acontecer - não precisa de acontecer no instante.
- faz recordar outros Rodriguez. Townes Van Zandt. Fred Neil. Nick Drake. Homens com canções belíssimas e pouco aplauso. Não sei se um dia o mundo saberá agradecer-lhes a beleza que dão ao mundo.
Eu fui ver a rapaziada ao Porto. Foi a minha ida a Fátima - neste caso, a uma Fátima Indie, onde actuavam os meus heróis de adolescência, pastorinhos da poética melodia noise. Ficámos - eu e os meus amigos - junto ao palco e perigosamente perto de uma das colunas. A experiência foi mais do que abençoada, mesmo quando o barulho parecia ter como consequência inevitável o sangramento dos nossos ouvidos de meninos. Ao fim de segunda música já tinha esquecido que a voz de Kevin e Bilinda estava soterrada debaixo das várias camadas do oceano sónico. Aliás, comecei a considerar que essa era a estratégia do grupo para este concerto e aceitei tudo o que nos era dado, seres privilegiados, vindo daquele altar portuense. Fiquei com admiração pelo baterista, trabalhadeiro até mais não - responsável por aquela maneira de tocar que, por vir nos discos debaixo de tanta produção, parecia fácil, quase um truque. No fim houve porrada com aqueles meus amigos que se chatearam com o técnico de som, responsável, segundo eles, pela mistela sonora sem vocalizações claras. Embalado por duas ou três caipirinhas defendi com primarismo toda a gente envolvida no milagre. Como quem defende o perfume das flores da sua adolescência. Hoje sinto-me tão feliz como culpado. Devia ter ficado pelo Strawberry Wine.
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