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A vida é um exercício tramado que agradeço.
O ficcionista gere a carreira das suas personagens de forma graciosa. Devia ter isenções fiscais por causa disso.
É frequente encontramos mais eu quando escrevemos na terceira pessoa.
A sabotagem é o meu método. Mas só escrevo aquilo que gostaria de ler.
"Our culture is obsessed with real events because we experience hardly any".
David Shields, "Reality Hunger".
"Hoje temos de estar na internet, mas tem de haver concertos na mesma para percebermos que temos seguidores".
Lloyd Cole, hoje, ao "i".
Se a morte é uma espécie de sono será que na altura podemos ter insónias?
Andamos a abreviar aquilo que não devemos abreviar: os cumprimentos. As mensagens entre pessoas chegadas (no campeonato pessoal ou de ofício) podem ser longas e conter todas as palavras do dicionário e depois terminam com um bj ou com um abr. "Olá Rigoberto, gostei muito de trabalhar contigo hoje. Bj, Sandra". Porquê este bj? É para manter a distância? É para não dar ideias ao Rigoberto? Penso tratar-se de um exagero. Se a Sandra gostou de trabalhar com o Rigoberto, o mínimo que pode fazer é dar-lhe um beijinho por escrito.
A questão também se põe entre amigos e cúmplices. "Tenho saudades tuas, Mariano. Ab, Lauro". O que é isto? Ab parece uma marca de lenços de papel. Não tem nada a ver com amizade. Felizmente ainda há gente que é excepção neste mundo de cumprimentos contidos e medrosos. Muitos não se ficam pelo Abraço. Vão mesmo ao grande abraço ou ao Grande Abraço. Os mais fonas e dados ao pequeno malabarismo da língua ficam-se pelo Grandabraço. Existem também os mais moderados, menos enfáticos, algo clássicos, os do Abraço Grande.
Durante um tempo o meu cumprimento da praxe para gente de quem gosto - mesmo que não conheça - era o Abraço! Houve alguém que se sentiu incomodado e,com uma piada, quase pediu para baixar a exclamação. Expliquei que a usava porque considerava que mandar um singelíssimo abraço era um gesto mole, sem vigor, sem intenção. A pessoa compreendeu mas não sei se ainda hoje lhe mando um abraço desses. Está na altura de voltar à carga.
Aos menos nos cumprimentos temos a possibilidade de ser inteiros, como dizia o outro. Andamos com coisas - manias, snobeiras, friezas, distâncias- quando aquilo que nos resta é a forma como, nestes decisivos bilhetinhos pós-modernos que são os mails e os SMS's - nos tratamos, nos cumprimentamos, nos despedimos.
Ele olhava,
ela olhava,
ele olhava,
ela olhava,
ele olhava.
Até que ela se cansou.
Ele, por si, continuava assim até ao fim dos tempos.
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