Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Andamos a abreviar aquilo que não devemos abreviar: os cumprimentos. As mensagens entre pessoas chegadas (no campeonato pessoal ou de ofício) podem ser longas e conter todas as palavras do dicionário e depois terminam com um bj ou com um abr. "Olá Rigoberto, gostei muito de trabalhar contigo hoje. Bj, Sandra". Porquê este bj? É para manter a distância? É para não dar ideias ao Rigoberto? Penso tratar-se de um exagero. Se a Sandra gostou de trabalhar com o Rigoberto, o mínimo que pode fazer é dar-lhe um beijinho por escrito.
A questão também se põe entre amigos e cúmplices. "Tenho saudades tuas, Mariano. Ab, Lauro". O que é isto? Ab parece uma marca de lenços de papel. Não tem nada a ver com amizade. Felizmente ainda há gente que é excepção neste mundo de cumprimentos contidos e medrosos. Muitos não se ficam pelo Abraço. Vão mesmo ao grande abraço ou ao Grande Abraço. Os mais fonas e dados ao pequeno malabarismo da língua ficam-se pelo Grandabraço. Existem também os mais moderados, menos enfáticos, algo clássicos, os do Abraço Grande.
Durante um tempo o meu cumprimento da praxe para gente de quem gosto - mesmo que não conheça - era o Abraço! Houve alguém que se sentiu incomodado e,com uma piada, quase pediu para baixar a exclamação. Expliquei que a usava porque considerava que mandar um singelíssimo abraço era um gesto mole, sem vigor, sem intenção. A pessoa compreendeu mas não sei se ainda hoje lhe mando um abraço desses. Está na altura de voltar à carga.
Aos menos nos cumprimentos temos a possibilidade de ser inteiros, como dizia o outro. Andamos com coisas - manias, snobeiras, friezas, distâncias- quando aquilo que nos resta é a forma como, nestes decisivos bilhetinhos pós-modernos que são os mails e os SMS's - nos tratamos, nos cumprimentamos, nos despedimos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.