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Gosto da expressão "ter um fraquinho", talvez em vias de extinção. O Mateus tem um fraquinho pela Sónia. A Rita tem um fraquinho pelo Tó. O Júlio tem um fraquinho pela Ana Maria. A Ana Maria não sabe disso. Que coisa bonita, essa de ter um fraquinho. Que expressão liceal. Inocente. Daqueles que se comentavam nas corredores das escolas e que começavam quase sempre por "acho". Acho que a Mariana tem um fraquinho pelo André.
"Ter um fraquinho" é um sentimento que ainda não se consegue definir. Pode ser o início de um sentimento mais forte mas pode também nunca crescer. Ainda não se sabe o que é. Se fosse um "fortinho" já não teria tanta graça.
Muitos adultos, apesar de não o assumirem, tem fraquinhos. Mesmo que mantenham um relacionamento de anos. Um fraquinho que só se confessa aos melhores amigos. Ou que cala para sempre, até ao último suspiro. O português suave que habita em muitos de nós é tão dado ao fado como é um pinga-amorzinho. Tem fraquinhos em cada encontro. Fraquinhos à primeira vista. Ou fraquinhos que durante anos e nunca são consumados ou confidenciados.
Os jornais de hoje falam de um relacionamento entre Obama e a Beyoncé. Se calhar os dois apenas têm um fraquinho um pelo outro. Que deve ser respeitado. O fraquinho é tão puro e inofensivo que não deve vir em manchetes. Não chega a ser um perfume. É o indício de um perfume. Uma flor que se ergue e que pode nunca ser oferecida. Um olhar que se desvia por timidez. Tem a ver com os primeiros amores mas pode acontecer na saleta de um lar da terceira idade.
Não é um aperto no peito, apenas faz comichão. É o seu lado inconsequente que o torna tão digno de ternura. Não é uma paixão. Não motiva dramas amorosos de faca e alguidar. É uma paixoneta, uma inclinação misteriosa. Levezinha. Não se sabe de onde vem. Não se sabe para onde vai. E é tão mais bonito quanto mais secreto for.
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