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Durante as operações antiterroristas na Bélgica, a imprensa nada disse sobre o assunto e os cidadãos belgas tweetaram gatos. Para quem não faz parte da confraria felina (nesse clubismo sou um ultra dos cães), por uma vez os gatos em barda na Internet fizeram-me sentido. Foi um gesto de quem sabe que o direito a informar se relaciona com outras urgências da vida de cada um. O Garfield tornou-se a manchete necessária.
Não percebo porque é que por cá todas as operações recentes em alguns bairros portugueses no sentido de procurar suspeitos de envolvimento na causa terrorista e todos os reforços imediatos de polícias – nos estádios e nas mesquitas, por exemplo – são noticiados de um modo sublinhado. Aquilo que devia ser feito com reserva emerge com um aparato que nada acrescenta. Se é para tranquilizar, posso dizer que não me tranquiliza. Até é capaz de me oferecer pesadelos.
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Na manhã do dia a seguir aos atentados terroristas em Paris, consultei o YouTube para mostrar ao meu filho Luís o teledisco de Holiday, a conhecida canção de Madonna. Em momento de noticiário trágico, dei por mim a revelar-lhe um instante em que a cantora celebra a vida dançando ao som de um ritmo ao qual é impossível ficar indiferente. Mal sabia eu que a própria, passadas umas horas, iria chorar os mortos num concerto dado em Estocolmo e cantar com o público Like a Prayer, 26 anos depois de o tema ser lançado.
Madonna esteve para cancelar o concerto, mas resolveu dá-lo à conta de um argumento decisivo: "Eles querem calar-nos, querem silenciar-nos e nós não vamos deixar!" A autora de Like a Virgin é o oposto daqueles que atiraram para matar em nome do fanatismo. Enquanto estes se baseiam no preconceito, Madonna Louise Ciccone tem vivido contra a intolerância, conseguindo afirmar-se sem medo em territórios do mais evidente puritanismo.
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No Dia Mundial da Televisão fiz uma digressão por vários programas, de épocas diversas, para o Observador. É ler.
O que é “Cara d’Anjo”, editado nestes dias outonais pela Gentle Records? Um disco de refrões mais do que inspirados, de bailinhos amorosos e românticos passeios pela alameda dados por um mister perfumado, sereno e sem medo. Mas também é obra de quem vai deixando de ser rapaz para passar a ser “homem novo” e que, felizmente, se olha ao espelho sem a fatal paz e o estéril descanso. Um disco de transição defesa-ataque que nos embala com talento as semanas e que tanto dialoga com os mais puros sixties (ouça-se o refrão do tema-título) como, aqui e ali, parece encontrar o já Senhor B Fachada numa esquina próxima e sossegada.
Se me pedissem para escolher um instrumento que o caracterizasse, escolheria o órgão. O órgão de “Ainda é Cedo”, de “Santo António” (este de fazer inveja a um Momus), de “Canto Diferente”, de “Lábios de Vinho”. Se me pedissem versos, iria respigar os da primeira canção: “Ó meu amor, volta depressa/ que esta noite é que vai ser uma beleza”. Acompanhados do obrigatório e irreproduzível “aaah uuuuh” da boa da cantoria.
Se tivesse de me decidir por um tema, ficaria dividido como um avançado entre defesas de méritos diversos. Com a música inaugural à minha frente, acabaria por escolher “Vida de Escorpião”, canção tão magnificamente estranha, "conto de faca" transportado em ambiente quase místico. Sobre fundo de mistério, Severo aparece disposto a cantar a sua vocação de apaziguado estrangeiro em mundo de pertenças: “Não sou burguês nem do povo/ e nem sei se tenho um destino”. Sabe, sabe. Pode não ser de ninguém mas o seu fado é compor belíssimas canções em muitos anos de vida.
1. Estive há dias em Óbidos, no festival Folio, e fui encontrando muitos autores, companheiros da jornada de luta literário-delirante. Todos me disseram mais ou menos o mesmo nos cruzamentos de rua: "Sei que tens uma coisa agora mas eu vou a um encontro de poetas pernambucanos que começa daqui a cinco minutos." Devo ter feito o mesmo quando estava para começar uma apresentação de um livro deles ou um colóquio em que participavam. Evitámo-nos no instante decisivo da literatura e da conversa cultural. Só nos encontrámos todos, em corriqueira algazarra, na partilha das moelas.
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