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Quando os filhos crescem os pais querem apanhá-los na subida, impedir que os traços do rosto se definam, agarrar-se aos ossos para que não se estendam, proteger o coração para que não endureça. Mas os filhos crescem, mudam de voz e de feitio. Apetece abraçá-los para não subirem mais.
Fotografar os amigos é uma forma de tirar uma selfie.
(André Almeida e Sousa, numa esplanada em Lisboa)
Não há lugar para estacionar o poema
Sucumbiu ao rodoviário sistema
É em Lisboa mas podia ser em Manila
O poema vai ficar em segunda fila.
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons." A frase, sabem, é de Martin Luther King. O meu filho mais velho fez um trabalho escolar sobre a figura e voltei a cruzar-me com o desabafo. Combina bem com estes dias em que gestos de bullying têm circulado nas televisões e na Internet.
A gente percebe o que King quis dizer. "Bons" é uma forma de chamar quem, sendo ocasionalmente capaz do pior, não inflige sucessivos actos de barbárie. Não é o santo. É o que assiste a injustiças evidentes. E que, no caso, nada faz para as contrariar.
São frases como esta que me levam a pensar que todos os gestos de violência escolar não devem ser relativizados com argumentos do tipo "antigamente também havia crueldade no liceu e uma pessoa tinha de se safar". Se havia crueldade no liceu não devia ter sido secreta. Nenhuma crueldade deve ser clandestina
.
Sobre este mesmo assunto, encontrei um excelente texto de Cristina Nobre Soares, no blogue Em Linha Recta. Com uma coragem exemplar, recorda um momento em que, aos 10 anos, viu alguém ser humilhado na escola e nada fez. Aconteceu-nos a todos. "Tive medo. Mas de mim. Que é o pior medo que podemos ter." Não é o pior dos medos, não. Devíamos, aliás, senti-lo mais vezes. Para o derrubar a seguir. E gritar aquilo que nunca deve ficar em silêncio.
(Publicado na revista Sábado)
Nas famílias todos têm a quem sair. Aos nove meses, o Manuel vai crescendo e bem aqui em casa. É alegre e vivo como a mãe. Gosta de roer as coisas como o pai. Sofre de alergia como os dois.
Nos velhos discos de jazz também gosto
de ouvir o ruído que vem do público.
Há alguém que grita com a voz rouca,
feliz pela prestação dos músicos.
Há aplausos; um copo partido.
O pulsar do lugar no subúrbio
de uma cidade do Sul. Momentos únicos
que regressam sempre do passado.
A vida deve ser qualquer coisa assim,
para lá da morte: o perdido
rumor de vozes numa noite de música.
E a nossa alma imortal deve ser
este instante preciso, frágil, breve,
em que um copo retine num velho disco de jazz.
Joan Margarit, "Misteriosamente Feliz".
Não fica longe do sítio onde agora trabalho. É o liceu francês. Estudei aí até aos sete anos, idade em que os meus pais disseram que já não ia apenas passar férias a São Miguel - ia viver para lá. Foi com sacrifício familiar que fomos aí mantidos, eu e a minha irmã. O meu pai, médico em formação nos hospitais, levava-nos de camioneta (aqui autocarro) para a escola.
Ficou-me a língua com a qual tenho uma relação muito directa, intuitiva, mais do que a que que tenho com o inglês. Imagens de jogos de futebol entre árvores. Cartões com animais que significavam distinções. Uma caganeira no recreio. O instante em que voltei a uma repleta sala de aulas com umas calças emprestadas. Ninguém disse nada. Nem um riso. Uma vergonha.
Visito o Centro Comercial das Amoreiras. Lá está ele, ao lado, assíduo na valorização de uma língua. Meu vizinho novo, casa onde já usei bata.
No café, logo pela manhã, um homem dos seus setenta e poucos convida-me para me sentar na mesa onde está, com um jornal à frente. Já não sei quem é que começou a conversa. Digo-lhe que estou a trabalhar em Campolide.Conta-me que é de Campolide. Elogio Campolide. Ele também. "Mas prefiro passar o dia em Campo de Ourique". Casado com Campolide, o homem está amantizado com Campo de Ourique. Não lhe fiz mais nenhuma pergunta.
1. No top das livrarias está um livro zen para os adultos colorirem como forma de combater o stress. Durante o acto eleitoral o livro será substituído por boletins de voto. A Comissão Nacional de Eleições devia já mandar vir os lápis.
2. O mais surpreendente do SMS de António Costa para o jornalista do Expresso não é o seu conteúdo. Considerando o saldo das contas no PS, o que impressiona é o facto de ter chegado ao destino.
3. Um conservador como Paulo Portas nunca enviaria um SMS. O líder do CDS-PP enviou a Passos um mensageiro da corte a anunciar a demissão com uma trombeta.
4. Caso Rui Rio avance e ganhe as eleições, a residência oficial do presidente vai passar a ser o Colégio Militar.
(O resto aqui).
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