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Última Hora

por Nuno Costa Santos, em 17.12.14

1. Governo vai criar um feriado para o dia em que José Sócrates foi detido.

2. CDS-PP vai propor feriado para o dia em que acabar a coligação com o PSD. Será o Dia da Restauração da Independência.

3. José Sócrates vai escrever uma carta em que culpa D. Afonso Henriques, o Topo Gigio e o professor Bambo pela sua prisão.

4. António Costa vai visitar José Sócrates por Skype, às quatro da manhã.

5. Marcelo vai receber uma mensagem de uma jovem que visitou a Assembleia da República e ficou chocada por ver deputados a trabalhar.

6. O administrador da RTP, Alberto da Ponte, vai trocar a transmissão de Liga dos Campeões pela transmissão de vídeos de raparigas avantajadas, aconselhados por parlamentares de todas as bancadas.

7. Ferrero Rocher vai fazer um anúncio em que troca o motorista Ambrósio pelo motorista João Perna e a madame pelo ex-primeiro-ministro de Portugal. A frase "apetece-me algo" é para manter.

8. O juiz Carlos Alexandre vai ser estudado pela revista Science por ainda não ter tido um esgotamento. Também poderá ganhar um Globo de Ouro por estar à frente de tantas telenovelas.

9. O Kante Alentejano vai ser ultrapassado pelo Sócrates Alentejano. Dois filósofos em alta competição.

10. Marinho e Pinto vai passar um dia sem usar a palavra "bandalheira".

11. Esta última notícia vai ser desmentida.

 

(Publicado na última edição da Sábado)

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publicado às 00:48

Alguém se lembra do ébola?

por Nuno Costa Santos, em 07.12.14

Não, não venho escrever sobre Sócrates. A Justiça que fale por si, como é sua obrigação. Venho escrever sobre um tema que me encanita como uma perturbadora rinite de mudança de estação: a histeria da actualidade. A histeria de tudo comentar. Acrescento: de tudo comentar com timbre de profundo conhecedor. A histeria de todas as semanas, de todas as horas nos tornarmos especialistas em qualquer coisa. Anteontem sabíamos imenso de frentes islâmicas, ontem éramos ebólogos, hoje somos penalistas. Amanhã seremos especialistas em esquilos. Não ajuda.

Pergunta-se: depois daquelas semanas em que toda a gente se pronunciava sobre o ébola, alguém ainda se preocupa com o ébola? Temo que não – e isso é algo que deixa sozinhos os africanos que ainda vivem focos infecciosos extremos. Agora que já deixou de passar nas notícias é problema deles. Que se arranjem e se safem. Agora só nos focamos no prato do dia e que se danem todas as iguarias da ementa.

Proponho uma ditadura (já era tempo): a de só falarmos de um assunto duas semanas depois de acontecer. Sejamos comentadores que chegam tarde às matérias, que evitam pôr o dedo no ar para deixarem sair mais uma ruidosa sentença, mais um comentário de uma sapiência tão aparatosa como vazia. Que andam à bulha como catedráticos de manchete.

Revejo a posição: não é proposta ditatorial. Ditadura é estar sujeito ao fascismo daquilo que é imposto mediaticamente, segundo a segundo, e que as multidões vão seguindo e analisando como quem segue um impostor interessado em ter a atenção toda. Em dominar. É urgente ir para a clandestinidade da reflexão lenta, fugir da propaganda de rodapé, abandonar essa patológica obrigação de nos licenciarmos (ao domingo também) em todas as disciplinas que não dominamos. O silêncio agradece.

 

(Publicado na revista Sábado)

 

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publicado às 21:10

Indie Pop Stars

por Nuno Costa Santos, em 03.12.14

Estou num supermercado em Vialonga e pergunto: quando é que deixei de ter estilo? Tenho uma maneira de vestir, sim, um modo de me apresentar, um penteado, umas camisas, uns sapatos escolhidos com algum critério. Mas já não tenho um estilo tão fundo e marcado, tão alternativo e próprio, quanto o que transportava na adolescência e nos primeiros anos da idade adulta. É como se tivesse desistido de ter estilo. Ao pé do que era sou um notário à segunda de manhã.


Um amigo recordava no sábado à noite, junto a uma garrafa de Bushmills, as camisas com padrões irrepetíveis que me via usar na adolescência. Os blazers velhos que levava num esquelético lombo. Os penteados que mais pareciam arvoredos sustentados à base de gel. O meu palco eram os corredores do liceu.

Hoje estou para aqui, nesta mesa de café num supermercado em Vialonga, com um homem com vestes comuns, até nos ténis com que envolvo os pés, vulgares entre quarentões mesmo em dias de semana.

Encontro de vez em quando homens e mulheres que trazem até à mais adulta das idades o estilo alternativo que tinham aos 16. Posso estranhá-los durante uns segundos, ficar parvo com uma teimosia de anos e com a sua incapacidade para mudar. Mas depois caio em mim. Admiro-os. São crentes. Continuam a ter uma religião. Não se tornaram vestuariamente ateus como eu, como tantos de nós. Ainda acreditam, nas repartições onde picam o ponto, que são pop stars.

 

(do site da revista "Sábado")

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publicado às 19:43


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