Muita gente com idades acima dos 45. A explicação deverá estar no facto de as canções de John Murry, de 35, tratarem não dos primeiros sentimentos mas daqueles que evocam cicatrizes e redenções. Murry apresentou-se em bo...as companhias - guitarrista, baixista, bateristas afinados e, mais importante, empenhados. O concerto superou as expectativas que se tinham perante uma arriscada transposição para o palco de um disco feito com muitas camadas de produção - cheio de texturas e de uma névoa sonora rigosamente desenhada. O tom ao vivo é mais rockeiro do que em "The Graceless Age" que, vale o que vale, recebeu a pontuação máxima do Guardian e da Mojo. Os solos de guitarra prolongam-se, criando um efeito psicadélico próximo do conseguido pelos mestres Galaxie 500.
A voz de Murry: tão melancólica como afirmativa. Murry cantou e tocou com verve "The Ballad of The Pajama Kid", "California", "Southern Sky". Entre o público havia pessoas a entoar as letras do único álbum a solo do rapaz do Mississippi, sempre disposto a confrontar o seu sotaque americano com o inglês. O instante que ficará na memória de quem foi ao Islington Assembly Hall chama-se "Little Colored Ballons", melódica evocação do momento em que Murry bateu no fundo e foi levado por uma ambulância à custa do seu ex-vício pela heroína ("I took an ambulance ride – they said I should've died, right there on 16th and Mission"). "I know you don't believe in magic. Nobody does. Not anymore", deixa cair. E chama pela mulher: “I miss you so goddam much”.
Acompanhado das teclas de um órgão desolado e de uma viola discreta, gritou o que tinha a gritar, partilhando com aquela matilha de cúmplices o coração, a fúria e a esperança.